
O post de hoje está relacionado com a hotelaria apenas indiretamente. É interessante analisarmos o impacto que a realização de mega-eventos causa em destinos turísticos. A organização de acontecimentos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas movimentam não somente a atividade turística, mas também todo o seu entorno. O destino em sua totalidade é afetado em aspectos que vão desde a infra-estrutura local e desenvolvimento da mão-de-obra até a auto-estima de sua população.
Neste ano, estive na China e fiz duas visitas a África do Sul (uma 30 dias antes da Copa e outra 3 meses depois) e pude observar como estes eventos afetaram as cidades de formas diferenciadas e isso proporcionou-me uma reflexão sobre a situação brasileira, se estamos preparados para receber estes mega-eventos e como seremos beneficiados.
No caso chinês, a disciplina e a pujança econômica ficam muito marcadas. Em tempos recordes e com assombrosa precisão, o país ergueu estádios, arenas, atrativos turísticos e hotéis. Também pavimentou ruas, limpou a cidade, maquiou os lugares menos atraentes e tentou educar sua população para receberem bem o turista e abandonarem hábitos localmente aceitos e um tanto repugnantes para nós, ocidentais. Os resultados ainda são perceptíveis depois de 2 anos da realização das Olimpíadas de Pequim. A cidade continua limpíssima e organizada, a infra-estrutura está sendo usufruída pela população local e os velhos hábitos não retornaram com tanta força. Em relação a atividade turística, a barreira idiomática continua sendo um problema e a falta de malícia/pró-atividade gera um atendimento cordial, ingênuo e pouco eficaz.
Quando se trata da África do Sul a situação é diferente. Estádios foram construídos e ruas foram pavimentadas, porém com timing diferente. Quando faltavam 30 dias para a Copa, ainda havia muito por fazer em Joburg! 3 meses depois, ainda vemos obras nas rodovias, acessos e estações de trens. O trânsito caótico não teve solução antes, durante e depois. Em compensação, o atendimento foi impecável nas duas visitas. Sem a barreira da língua e com uma alegria contagiante, o hospitaleiro povo sul-africano preparou-se para receber os milhares de visitantes de forma calorosa e aprendeu com o evento, sendo que ainda é possível desfrutar da mão-de-obra mais capacitada. Se em alguns casos a estrutura não estava lá, certamente o sorriso estava para minimizar os transtornos.
Acredito que a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 farão bem ao Brasil. Veremos obras necessárias saírem do papel e veremos o país ser incluído no mundo como um destino turístico de peso, como merece. Espero que sejamos a união de China e África do Sul - que possamos ter a estrutura necessária pronta a tempo e de forma organizada combinada com a cordialidade e a excelência na prestação dos serviços. Espero também que saibamos gerenciar os legados positivos e negativos que estes eventos trarão. Mas isto é conversa para outro post! Por sinal, alguém está vendo alguma movimentação estruturada para a organização destes eventos? Eu ainda não!
Eu vou ser sincera... Desde o começo fiquei "sceptic" com tudo isso. Não com a capacidade do jeito brasileiro de fazer a coisa no final funcionar e ser boa, nem que seja puramente pelos sorrisos e empolgação.
ResponderExcluirMas justamente pelo que eu vejo como uma falta de capacidade, principalmente administrativa, em se conduzir projetos desse tamanho... E eu digo isso não só por não ver ainda nada concreto pra isso acontecer (o que talvez fosse por eu estar longe um tanto desconectada da realidade brasileira), mas pelo simples fato de coisas que eu considerar básicas ainda serem precárias - na boa, eu não vejo os aeroportos brasileiros tendo capacidade de aguentar o fluxo de pessoas entrando e saindo do pais durante esses eventos...
Putz, Carol, gostaria muito de ter o seu otimismo, mas as notícias sobre a organização da Copa 2014 não permitem. O problema maior é a quantidade de dinheiro público que vai ser gasto, como vai ser gasto e onde vai ser gasto. O custo das arenas que inicialmente era divulgado como de 2.8 bilhões já ultrapassa 10 bilhões, e olha que não tem quase nada em andamento. Os eventos anteriores ensinam que investimentos em infraestrutura ficam como "legado" e as arenas tendem a se transformar em elefantes brancos. Do jeito que vai aqui no Brasil, as arenas podem consumir 50% ou mais do orçamento total projetado (na Africa foi 27.6%). Na AS os 10 estádios que custaram mais de 4 bilhões só receberam 20 dos 96 jogos realizados na liga local (os times fogem por conta do custo alto) e a média foi de 3.200 torcedores por jogo. (http://www1.folha.uol.com.br/esporte/814298-africa-do-sul-ignora-legado-da-copa-do-mundo-de-2010.shtml). Parece que só quem vai ganhar com a Copa aqui são os políticos responsáveis por orçamentos gigantescos. Quem vai perder todo mundo já sabe...
ResponderExcluirConcordo com vocês! Mais que otimismo, meu post é um desejo! Porém acho que faltam várias coisas importantes para nós ainda: seriedade, ética, infra-estrutura básica, competência para condução de um projeto deste porte, profissionais capacitados, enfim...
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